terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sampa

Os tons de
tua aurora
inauguram
o beijo que da pedra surge
velando
o que de humano resta
em teus indigentes.

Não há
em tua tela
das flores
pigmentos
ou sutis aromas em teu olfato.
Há o preciso
risco do grafite
e urinas
e fezes
e suor e lodo.

E de tão dura paisagem
o que há de belo
se lapida
na flor que no tecido
dança ao vento
ou nas calças coloridas
da menina
que em ritmados passos
orquestra
do alto de um viaduto
como resistir a mais um dia.

domingo, 15 de setembro de 2013

Incompatibilidade de tempos

Em tua ausência
Trapaceio as horas
Até que meu segundo encontre o teu
                               
Mas que injusta sina
Se ao assim fazer
Antecipo também tua partida.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Monalisa dos trópicos

Era teu nome
que entoava
enquanto tu
atravessavas aquela rua
tão apartado de mim.
                                               
E buzinas silenciaram
e o tempo dos relógios
quedou-se suspenso
no exato momento
em que me ignoraste             
ali, Monalisa dos trópicos,     
Soprano no chamado
pelo adeus negado.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Beijo


Naquela rua

na Colônia de pedra

sacramentado

- quase à meia-luz do meio-dia

lanterna espiando

sob a sombra

de um charmoso arbusto -

do casal

O Beijo

retrato em pastel

rosado.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Desejo canino

Eis que
da inocência canina
a que me comparaste  
extraio a
inesperada retidão.
     
Não há nela
o desabono
da frieza
Mas sim o belo
do sutil afago                                
A leve lealdade                  
revelada
em dedicação.
 
Sim, que eu abandone
toda a rigidez humana                
e seja o mais caloroso cão
Que eu infle o peito
em orgulho e plenitude
pelo simples e corajoso ato
de retribuir o amor
que a mim for
tão fielmente
devotado.

Desenho de Maiakovsky em Carta de Amor a Lilja Brik datada de 19/12/1921.